Exercício físico prolonga a sobrevida de pacientes com câncer colorretal 52y6s
Em ensaio clínico apresentado na ASCO 2025, pacientes que se mantiveram ativos após tratamento oncológico apresentaram uma redução relativa de 37% no risco de morte Brasil e Mundo | Por Agência Einstein 07/06/2025 16h00 |A atividade física oferece uma série de benefícios para pessoas com câncer, durante e após o tratamento. Do ponto de vista clínico, cada vez mais trabalhos demonstram que a prática de exercícios pode reduzir o risco de recorrência da doença. Agora, um amplo estudo apresentado durante a ASCO 2025, a reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, realizada em Chicago, nos EUA, entre os dias 29 de maio e 2 de junho, reforça essa recomendação. 1k5n3w
Publicado no último dia 1º de junho no New England Journal of Medicine, o trabalho traz evidências robustas de que um programa estruturado de exercícios físicos pode melhorar significativamente a sobrevida e a qualidade de vida de pacientes com câncer colorretal e foi considerado um marco na oncologia comportamental.
O estudo CHALLENGE (Colon Health and Lifelong Exercise Change) foi conduzido ao longo de 15 anos em 55 centros médicos, principalmente no Canadá e na Austrália. Durante esse período, os pesquisadores acompanharam 889 pacientes com câncer colorretal que haviam feito a cirurgia para ressecção do tumor e concluído a quimioterapia adjuvante — procedimento padrão no tratamento.
Eles foram divididos aleatoriamente em dois grupos: um recebeu apenas material educativo sobre saúde e bem-estar, enquanto o outro grupo participou de um programa estruturado de exercícios físicos por três anos, com acompanhamento profissional e sessões supervisionadas.
Os resultados são notáveis: após um acompanhamento de quase oito anos, a sobrevida livre de doença em cinco anos foi de 80,3% na turma que praticou exercícios, contra 73,9% no grupo controle. A sobrevida global em oito anos também foi significativamente maior entre os que se exercitaram – 90,3% em comparação a 83,2% do controle. Isso representa uma redução relativa de 37% no risco de morte ou de 6% em termos absolutos, reforçando o impacto clínico dessa intervenção não farmacológica.
“Essa é uma diferença bastante significativa. É um resultado muito próximo do que alcançamos com a quimioterapia”, destaca o oncologista clínico Diogo Bugano, do Hospital Israelita Albert Einstein, que acompanhou a apresentação do trabalho presencialmente na ASCO. “Importante dizer que o exercício não substitui o tratamento e todos os pacientes do estudo fizeram a quimioterapia, além da atividade física. E o estudo mostra que a atividade física foi tão importante quanto fazer a quimioterapia.”
O impacto dos exercícios
O programa de exercícios físicos foi cuidadosamente desenhado para promover a prática segura e eficaz de atividades físicas entre sobreviventes do câncer. Nos primeiros seis meses, os pacientes participaram de 12 sessões presenciais de apoio comportamental e 12 sessões de exercícios supervisionados, com a meta de alcançar ao menos 10 MET-horas de atividade física moderada a vigorosa por semana, o equivalente a, por exemplo, 150 minutos de caminhada rápida.
Nos dois anos e meio seguintes, a intervenção foi mantida com sessões mensais e e remoto. A adesão ao programa foi considerada alta, principalmente nos primeiros 12 meses, e diminuiu gradualmente ao longo dos anos — o que, ainda assim, não impediu os efeitos positivos na sobrevida com qualidade.
Além dos benefícios na sobrevida, os pacientes ativos apresentaram melhorias consistentes na aptidão física, como maior consumo máximo de oxigênio e maior distância percorrida em testes de caminhada. A função física autorrelatada também melhorou de maneira significativa, apontando ganhos na qualidade de vida.
Curiosamente, o peso corporal e a circunferência abdominal dos participantes não apresentaram grandes mudanças, o que sugere que os benefícios do exercício estão mais ligados a mecanismos metabólicos, inflamatórios e imunológicos do que à perda de peso em si.
Para Bugano, esses achados têm grande relevância para a prática médica, pois evidenciam que a atividade física estruturada deve ser considerada parte do tratamento do câncer. “Quando termina a quimioterapia, muitos pacientes perguntam o que mais podem fazer para evitar que a doença volte. Agora, temos uma evidência sólida de que o exercício físico tem um papel essencial nesse cuidado”, observa o oncologista.
De acordo com o especialista, o exercício deve receber a mesma atenção que a quimioterapia, e o profissional de educação física a a ter um papel tão relevante quanto o do próprio oncologista no cuidado com o paciente.
Mas não é preciso ter pressa nem se cobrar demais: no estudo, os participantes começaram a se exercitar em média três meses após o fim da quimioterapia, e mantiveram a prática por pelo menos dois anos. “Os resultados não são imediatos, então não há motivo para culpa. O importante é começar, sempre é tempo. Esse é um compromisso de longo prazo com a própria saúde”, frisa Bugano.
Dieta também interfere
Esses achados ganham ainda mais relevância quando analisados junto a dados apresentados no mesmo congresso sobre o papel da dieta na sobrevida de pacientes com câncer colorretal.
Um estudo liderado por especialistas do Dana-Farber Cancer Institute, nos Estados Unidos, analisou a dieta autorrelatada de 1.625 pacientes e mostrou que aqueles que mantinham uma alimentação baseada em produtos considerados inflamatórios (carne vermelha, carne de porco, ultraprocessados e alguns tipos de peixes) tinham um risco 87% maior de morte em comparação com os que seguiam dietas menos inflamatórias (baseada em vegetais, carnes brancas e oleaginosas).
“O estudo analisou especificamente pacientes com câncer de intestino e, embora não tenha comprovado uma redução nas recidivas da doença, mostrou que uma dieta saudável está associada a uma menor mortalidade, tanto por câncer quanto por outras causas”, explica Diogo Bugano.
Isso indica que, se o câncer voltar, os desfechos tendem a ser piores em pacientes com uma alimentação inflamatória. O oncologista também enfatiza que se trata de um estudo observacional, ou seja, mostra uma associação importante, mas não estabelece uma relação de causa e efeito direta.
Cada vez mais frequente em adultos jovens, o câncer colorretal deve acometer quase 46 mil pessoas no triênio de 2023 a 2025 no Brasil, segundo as estimativas mais recentes do Instituto Nacional de Câncer (Inca). Sem considerar os tumores de pele não melanoma, ele ocupa a terceira posição entre os tipos de câncer mais frequentes no país.
A combinação de dieta saudável e atividade física regular pode, portanto, ser uma abordagem sinérgica para melhorar o prognóstico de pacientes com a doença. Inclusive, médicos devem considerar a "prescrição" de um estilo de vida saudável como parte do tratamento oncológico. Afinal, não basta tratar o câncer, é preciso cuidar do paciente de forma integral, com orientação sobre comportamento, nutrição e movimento.






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